Era uma paixão guardada até que
um dia chegou a hora. Depois de duas L200 compradas do jeito que deu, poderia
aproveitar os bons ventos e o mar tranquilo do final de 2009 para chegar de vez
onde queria. E lá estava ela, amarela, em um canto da loja. Não precisava ficar
em lugar de destaque porque, de onde você olhasse, ela se sobressaia. Negócio
fechado e, por ironia do destino, quem vai pegar o carro zero na loja é a Cristina
e Letícia. Até hoje não esqueço a seguinte cena.
Parado no sinal do Largo da
Batalha, voltando para casa para enfim ver o carro novo, de repente cruza na
minha frente uma Savana amarela, andando rápido. Igual a minha, penso eu. Um
olhar mais atento e ... Cristina e Letícia dentro dela? É a minha! E as duas já
tirando casquinha por aí. Justiça seja feita, elas estavam resolvendo os
problemas de emplacamento e, depois de idas e vidas, deu tudo certo.
O carro novo já tinha uma missão.
Para janeiro estava programada minha primeira viagem internacional de carro e o
destino seria a meca dos amantes do off road. San Pedro do Atacama, no Chile, e
todos os seus desafios. O grupo pequeno de quatro carros cumpriu rigorosamente
a programação e, no final, ficaram as boas lembranças nas andanças a mais de
4000 metros de altura, do frio e da baixa umidade local. De Salta, trouxemos
belas recordações.
Minha companheira, então,
enfrentou forte rotina diária no deslocamento diário Niterói-Barra da Tijuca e
nos fins de semana nas atividades off road. Em uma dessas, uma manobra inábil
de um competidor fez com que ela fosse para o estaleiro para reparo de lataria
nas portas, ficando a certeza de que rali do Carioca Off Road não era atividade
recomendada para ela.
O odômetro rodava rápido e 2011
chegava para a realização da Expedição Brasil Transamazônica. O grupo já um
pouco maior de seis carros superou sem maiores dificuldades os desafios de
percorrer 9000 km passando por nove estados e por rodovias emblemáticas no off
road. A Transamazônica e a Cuiabá-Santarém. Depois de 20 dias de viagem, uma
boa lavagem, e já estamos prontos para voltar à rotina do dia a dia.
Para 2012 os desafios são bem
maiores. Primeiro uma ida ao Sul do Brasil para conhecer Gramado-Canela e os
Canions Fortaleza e do Itaimbezinho. Depois, a Serra do Rio do Rastro. Em
seguida vem aí a Expedição Biomas da América do Sul. Deslocamento até o Acre
para, então, vencer as alturas dos Andes com 4850 metros de altura no trecho
Porto Maldonado – Macchu Picchu. Forte e valente nos levou com segurança ao
encontro de nossos companheiros, prosseguindo, assim, ao Lago Titicaca e, em
seguida, descendo ao Oceano Pacífico. A variação de altura ia de 4000 metros
até o nível do mar não nos trazia nenhuma preocupação. Mais uma passagem pelo
Deserto do Atacama e Salta. As recordações são registradas em belíssimas
imagens. Encerramos o ano com uma expedição ao Pantanal Sul, andando muito no
verdadeiro off road e admirando a natureza bem de perto
Chegamos a 2013 com 121231 km
rodados e já somos bem íntimos, conhecendo bem as limitações de cada um. A
programação para o ano seria uma viagem com Cristina a São Miguel das Missões,
muito bela e carregada de valores históricos, que nos deixou uma gostosa
sensação de que precisamos voltar novamente. Mais uma expedição ao Pantanal,
agora cruzando do Sul para o Norte, acampando nas fazendas, andando por imensos
areais e, depois de descer de balsa cerca de 50 km do rio Piquiri, ingressar na
Transpantaneira e sua infinidade de pontes. O ano está acabando do alto de seus
155889 km. Já precisamos pensar em dar um descanso para minha amiga. Que tal
reservá-la apenas para os momentos de lazer e deixar as tarefas do dia a dia
para alguém com perfil mais apropriado? Será feito.
Se agora a prioridade é o lazer,
vamos começar com uma viagem a Montevidéu em fevereiro de 2014. Muita distância
e pouco off road, mas serviu como aperitivo a um dia fazer os 250 km entre Chuí
e Rio Grande pelas areias da praia. Este dia está chegando. No segundo semestre,
o Jalapão é o destino e lá vamos nós cruzando a Caatinga do interior da Bahia
para depois usufruir das cachoeiras e fervedouros do Cerrado do Jalapão, em
Tocantins. São cerca de 174000 km rodados e, pela primeira vez, paramos na
estrada por um motivo que não foi ajudar os outros. Desta vez, um pneu furado –
o primeiro em uma expedição iria atrasar nossa chegada a Natividade, ainda no
Tocantins. Nada de grave e chegamos a Niterói sem maiores problemas.
Enfim chegamos a 2015 e meus
projetos de viagem continuam com objetivos cada vez mais longínquos. Mas minha
amiga está ficando cansada, chegando na casa dos 185000 km. Por mais que tenha
cuidado na manutenção, certas surpresas podem acontecer e, estando muito longe
de casa, a solução pode não ser tão simples. Está chegando a hora. Passeios,
trabalho, ralis, expedições, tudo vai ficar na lembrança. Asfalto, areia,
barro, paralelepípedo, rípio, cascalho e rios, com lama ou sem lama, nas altas
alturas ou ao nível do mar, com muita gente junta ou sozinhos, só nós dois.
Vencemos tudo juntos.
Você continuará com alguém que
saberá respeitar suas limitações e aproveitarão juntos ótimos momentos. Que no
futuro nos encontremos em alguma trilha por aí.
Sergio
Belo relato em sua forma e conteúdo . . . .o que mais pode ser dito ? Parabéns !!
ResponderExcluirBelo relato em sua forma e conteúdo . . . .o que mais pode ser dito ? Parabéns !!
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